O passo a passo pra você se tornar um WWoofer e viajar pelo mundo
O sonho de conhecer muitos países e ter contato com outras culturas fascina a maioria das pessoas. E isso, em geral, esbarra na falta de dinheiro. A iniciativa do WWOOF não nasceu para proporcionar viagens gratuitas, mas para incentivar a produção de orgânicos. Acontece que, ao permitir a troca de algumas horas de trabalho, em geral bem leve, por hospedagem e alimentação sem custos, acabou se tornando uma oportunidade para jovens do mundo inteiro. Sim, especialmente para os jovens, porque não se deve esperar por conforto e mordomias.
– Primeiro é preciso escolher um País do qual você tenha um domínio básico da língua
– Entre no site do WWOOF e crie um perfil explicando porque quer fazer parte do programa
– Coloque uma boa foto. Isso ajuda na aproximação com os hosts
– Inicie o contato com os anfitriões, mas antes descubra qual trabalho que eles realizam lá
– Escrever para os locais de interesse, deixando claro quando poderia ir
– Quando fechar com algum anfitrião, checar muito bem o endereço e como chegar
Acertada a data da viagem é hora de pensar no dinheiro da passagem e de algum extra. Há locais onde o acesso não é tão fácil após o desembarque no aeroporto ou estação ferroviária. Alguns proprietários chegam a ser tão gentis que buscam o visitante na cidade mais próxima. Torça por isso.
Agora, vamos voltar ao nosso Wwoofing pelo Sudoeste da França. Mais exatamente na região de Castillon La Bataille, que também fica a meio caminho entre Bordeaux e Saint Emilion.
Christian Jacquement, proprietário do Château Franc La Fleur, optou pela agricultura biodinâmica, sem a utilização de pesticidas. Ele obedece os ciclos da Lua e trata suas vinhas com um carinho especial. Nada do maquinário utilizado pelos grandes produtores. Sua produção utiliza pouquíssimo sulfito, utilizado para conservar o vinho e evitar a oxidação, mas que não faz muito bem à saúde.
São vinhos ricos em polifenóis, compostos presentes na casca na uva, que têm propriedades anti-inflamatórias e ajudam a combater as doenças cardiovasculares. É dali que sai o Château Franc La Fleur, appellation Castillon Côtes de Bordeaux, utilizando três tipos de uvas típicas da região: Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc.
O trabalho lá, entre o final da Primavera e início do Verão, consiste na “elevação”, a sustentação das ramas das vinhas, presas nos arames, para que apontem para cima. A colheita é feita em Setembro.
Christian é um ex-professor de Matemática, que resolveu trocar as salas de aula pelos vinhedos. Com um humor francês – leia-se não muito dado a simpatias – mas gentil o suficiente. Não esconde sua paixão pelas vinhas. Nos últimos tempos, também se dedica à plantação de Goji, uma minúscula fruta originária do Himalaia, à qual se atribuem propriedades quase mágicas para a saúde. É utilizada, principalmente, na produção de geleias, sucos e chás.
Numa estadia com Christian é quase certo poder contar com a presença de Philippe Froger, artista plástico, morador da região, que encanta os visitantes com uma conversa recheada de humor e cultura. Froger passou a juventude e parte da vida adulta em Paris, mas decidiu trocar a cidade pelo campo. “Paris não é nem de longe a mesma cidade que conheci”, ele diz, inconformado com a explosão da metrópole, onde não são apenas os preços dos imóveis que expulsam alguns moradores. Por exemplo, sentar à mesa de um café parisiense, segundo ele, já foi muito mais prazeroso do que nos tempos atuais.
Uma visita ao Sudoeste exige uma passada pelo Châteaux La Rivière. Construído no século XVI, o castelo foi residência de inúmeros nobres franceses e passou por muitas reformas ao longo dos séculos. Em 2013, foi palco de uma terrível tragédia. O então proprietário, James Grégoire, estava vendendo o Châteaux para um bilionário chinês, transação na casa das centenas de milhões de euros. Ao sobrevoarem a propriedade, o helicóptero que os transportava caiu, matando Grégoire, o empresário chinês e seu filho, de apenas 12 anos. A viúva do empresário não estava no voo e hoje administra a propriedade.
A tragédia, real, deu origem à lenda de que assombrações seriam vistas em algumas noites nos amplos salões. Não é preciso acreditar na lenda, mas vale a visita a um local que tem uma belíssima vista para os vinhedos e onde é possível provar saborosos tintos e brancos.
Se você está decidido a se tornar um WWoofer, lembre-se de que a França é apenas um dos 130 países que você pode visitar. Acima de tudo, é uma questão de planejamento.