Turistas do bate e volta gastam pouco, deixam muito lixo e utilizam os serviços públicos essenciais
Após uma pausa forçada de dois anos devido à pandemia de Covid-19, o turismo está retomando o movimento normal na Itália, em parte, graças ao investimento feito pela Agência Nacional de Turismo da Itália (ENIT) que lançou uma campanha internacional para atrair novos visitantes.
Durante os primeiros nove meses de 2022, mais de 89 milhões de pessoas fizeram check-in em hotéis ou outros meios de alojamento, na Itália, número 46% maior do que o registrado em 2021. Mas nem todos os italianos estão felizes em ver a multidão de estrangeiros de volta ao país.
Um dos motivos da revolta é a utilização de um ícone da arte clássica na campanha publicitária da ENIT que promove a retomada do turismo de massa.
A Vênus de Botticielli, obra-prima da Renascença, foi transformada em uma influenciadora digital para atrair visitantes estrangeiros à Itália. A deusa grega, pintada no século 15, viaja por diversos cartões postais italianos, postando selfies no Instagram dela mesma comendo pizza, admirando as vistas romanas e venezianas ou pedalando na Costa dei Trabocchi.
Intitulada “Open to meraviglia” (Aberta às maravilhas), a campanha, que inclui a distribuição de anúncios em aeroportos e terminais ferroviários em todo o mundo, custou € 9 milhões, e foi duramente criticada nas redes sociais, onde os usuários a classificaram como estranha e muito cara.
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Outro aspecto levantado foi o impacto negativo que o turismo de massa traz para as cidades italianas, principalmente, as pequenas e médias cidades.
Muitos dos destinos mais procurados lutam para administrar o fluxo de milhares de turistas que superlotam ruas, praias e atrações, e já estudam medidas para limitar a entrada de visitantes, uma forma drástica de resolver o problema.
Um dos exemplos é a cidade de Cinque Terre, que fica localizada na zona costeira, composta por cinco pequenas aldeias na região noroeste da Ligúria. Famosas por suas casas coloridas com vista para o mar e pelo seu labirinto de ruas minúsculas e acolhedoras, as cinco cidades juntas têm menos de 4 mil habitantes, mas em 2022 recebeu mais de 3 milhões de turistas.
“Precisamos encontrar um equilíbrio entre as demandas dos residentes e as necessidades dos turistas”, afirma Fabrizia Pecunia, prefeita de Riomaggiore, uma das cinco localidades de Cinque Terre, ponto turístico debruçado sobre o Mediterrâneo. Pecunia defende que governo da Itália conceda poderes especiais às administrações locais em zonas turísticas, para permitir que elas adotem medidas extraordinárias de gestão de multidões, por meio de um sistema de reservas obrigatórias para grandes grupos.
“A maior parte dos serviços que prestamos são direcionados para esses visitantes, como sanitários públicos, coleta de lixo, presença de policiais nas ruas para manter a ordem pública”, explicou a prefeita, destacando que, neste momento, as receitas que os turistas geram em seu município não são suficientes para cobrir todas as despesas do turismo de massa.
Porém, nem todos os prefeitos italianos concordam com o posicionamento de Pecunia. “Os turistas são um desafio que estamos felizes em enfrentar”, afirma Pierluigi Peracchini, prefeito de La Spezia, uma cidade que fica perto da área de Cinque Terre.
“O turismo deve ser encarado como uma oportunidade, e não como um problema”, afirmou. “Basta nos organizarmos. Como administradores locais, precisamos administrar os problemas relacionados ao turismo, não apenas aproveitar o lado bom dele”, orientou.