Devolução foi acertada em reunião na ONU. Estima-se que mais de 19 mil crianças foram levadas à força da Ucrânia para a Rússia
A Comissária dos Direitos da Criança da Rússia, Maria Lvova-Belova, afirmou em reunião do Conselho de Segurança da ONU que as crianças deportadas da Ucrânia para a Rússia foram retiradas do país por questão de segurança e que Moscou está coordenando uma ação com organizações internacionais para devolvê-las às suas famílias.
Lvova-Belova está sendo acusada de cometer crimes de guerra por ter expatriado pelo menos 19.500 crianças ucranianas retiradas de suas famílias e de orfanatos, segundo a embaixada da Ucrânia. No mês passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu uma ordem de prisão contra a comissária e o presidente russo, Vladimir Putin, acusando-os de sequestrar crianças da Ucrânia.
Embaixadores de países ocidentais boicotaram a reunião em que Maria Lvova-Belova participou por link de videochamada, enviando diplomatas de baixo escalão. Representantes dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Albânia e Malta abandonaram a reunião quando a comissária começou a discursar.
A resposta da Rússia
A reunião foi convocada pela Rússia que detém a presidência rotativa do Conselho de Segurança neste mês, sob o argumento de que é preciso combater o que afirma ser desinformação sobre as crianças ucranianas. Mas as reações não foram amistosas.
A embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, disse que Lvova-Belova não deveria receber a permissão para “ter um pódio internacional para espalhar desinformação e tentar defender suas ações horríveis que estão ocorrendo na Ucrânia”.
De acordo com uma investigação da agência Associated Press, autoridades russas deportaram crianças ucranianas para a Rússia sem o consentimento de seus pais, mentiram para elas afirmando que não eram desejadas por seus pais, as usaram para propaganda e deram a elas famílias e cidadania russas.
O embaixador da Rússia, Vassily Nebenzia insiste que “não houve adoções forçadas”. Ele disse que algumas crianças ucranianas estão em um orfanato e afirmou que “não há obstáculos” para que mantenham contato com suas famílias na Ucrânia.
Desde o início da guerra, em Fevereiro do ano passado, Lvova-Belova disse que a Rússia acolheu mais de 5 milhões de ucranianos, incluindo 700 mil crianças – todas com pais, parentes ou tutores legais, exceto 2 mil crianças de orfanatos no leste da cidade de Donbass.
Lvova-Belova garante que cerca de 1.300 crianças já foram devolvidas a seus orfanatos, 400 foram enviadas para orfanatos russos e 358 foram colocadas em lares adotivos. A comissária disse que não houve nenhuma comunicação oficial com as autoridades ucranianas sobre as crianças, mas que a Rússia estaria coordenando com a Cruz Vermelha Internacional a devolução de todas as crianças ucranianas.