Cientistas acreditam que os anticorpos produzidos por estes animais podem turbinar o sistema imunológico dos humanos
O que os tubarões e camelos têm em comum? Anticorpos que mostram potencial para promover uma verdadeira revolução na medicina, levando a tratamentos promissores de doenças que vão do câncer a vírus como o Covid, além de reforçar todo o sistema imunológico dos humanos.Esses anticorpos se prendem a partes ocultas das moléculas e penetram nos tecidos mais profundamente, aumentando o potencial de cura contra distúrbios de coagulação.
O patologista Aaron LeBeau da Universidade de Wisconsin, faz pesquisas com tubarões-lixa. Já o imunologista também Hidde Ploegh estuda os anticorpos de alpacas, um tipo de camelo. Ambos perseguem o mesmo objetivo: a busca de determinados anticorpos produzidos apenas por alguns animais, que podem promover grandes mudanças nos tratamentos de saúde.
Pequenas no tamanho, grande nas possibilidades
A maioria dos anticorpos humanos, moléculas que percorrem o sangue e tecidos buscando invasores, são robustos para essa tarefa. Já os anticorpos produzidos por camelos e tubarões são mais simples e menores. Chamados de mini-anticorpos, eles acabam se infiltrando em lugares pequenos, que os anticorpos humanos não podem acessar. Eles parecem adotar facilmente formas diferentes, recurso este apelidado por LeBeau de “ioga molecular”. Isso significa que os mini-anticorpos podem entrar em locais apertados, seja em tecidos do corpo ou em partes minúsculas de moléculas individuais.
Além disso, os anticorpos desses animais são mais fáceis de trabalhar, economizando tempo e dinheiro para os tratamentos que podem surgir a partir deles. Ao contrário de outros anticorpos, sua estrutura é estável à temperatura ambiente. Devido a isso, não há necessidade de mantê-los no freezer, despachá-los frios ou cultivá-los em um frasco específico, cuja manutenção pode ser complicada e cara.
Além de poderem ser fabricados em grandes quantidades, os anticorpos de tubarões e camelos tendem a se automontar adequadamente, mantendo suas formas adequadas. A chance de sucesso nos tratamentos é muito maior, além da diminuição de efeitos colaterais.
Um anticorpo ao se desdobrar de forma incorreta possui maior chance de ser reconhecido pelo sistema imunológico como uma molécula estranha, provocando uma resposta imune negativa no corpo e na saúde do paciente.
Impacto
As diversas formas de utilização destes anticorpos e seus benefícios ainda podem levar anos para se concretizar. Mas, os pesquisadores estão muito entusiasmados com suas possibilidades. “Acho que eles têm potencial para salvar o mundo”, afirma LeBeau.
A foto do tubarão exibida na capa é de Alexandre Boucey, para a Unplash