GUERRA

“Siga em frente, até que você seja morto”. Ordem dada por comandante russo

Mal treinados e mal armados, jovens russos são lançados para morrer nas frentes de combate

Da redação | 14 de fevereiro de 2023 - 21:55

The Washington Post

Na tentativa de avançar sobre o território da Ucrânia, comandantes russos não hesitam em utilizar uma das mais antigas – e cruéis – táticas de guerra: lançar grandes quantidades de soldados nas frentes de combate, para tentar quebrar a resistência do inimigo ou, pelo menos, esgotar sua munição e permitir que outras tropas conquistem as posições.

Na memória de Andrei Medvedev, a frase que ouviu de seu comandante ficou gravada: “Siga em frente, até que você seja morto”. Para sorte de Andrei, ele não apenas escapou com vida como conseguiu fugir. E hoje vive como refugiado na Noruega.

No caso de Andrei, tratava-se de um batalhão do grupo de mercenários russos denominado Wagner. Mas ele afirma que a ordem para utilizar os soldados, principalmente os mais jovens, como “bucha de canhão”, também prevalece nas fileiras do Exército russo. Esses jovens, alguns ainda meninos, segundo ele, são levados para o front sem treinamento adequado, com poucas armas e munições.

O grupo Wagner é financiado por magnatas próximos do Kremlin, que desejam ficar bem com o regime de Vladimir Putin, a fim de beneficiar seus negócios. Seu fundador é Eugeny Prigozhin, empresário com interesses em diversas áreas, que vão de energia a infraestrutura e que faz parte dos círculos mais próximos de Putin.

Os mercenários do grupo Wagner incluem uma enorme variedade de combatentes, recrutados em minorias étnicas no interior da Rússia, sob a promessa de altos ganhos que nunca chegam a receber, até porque acabam morrendo nos primeiros combates. Também fazem parte dessa tropa ex-presidiarios, libertados por Prigozhin, sob condições que, na maioria das vezes, envolvem corrupção e subornos.

A fuga para a liberdade 

De acordo com a versão de Andrei Medvedev, ele conseguiu fugir do acampamento das tropas do grupo Wagner, na segunda semana de Janeiro. Ele disse ter caminhado vários dias até se aproximar da cidade de Skreitnes, situada na fronteira entre Rússia e Noruega. A área fronteiriça é fortemente vigiada, com poderosos holofotes que podem alcançar longas distâncias.

comandante russo

Andrei Medvedev, ex-combatente e agora refugiado na Noruega. (Foto: Gulagu.net)

Quando se aproximou da área, segundo ele no dia 18 de Janeiro, foi perseguido por soldados russos, com cães farejadores. Como tinha alguma vantagem de distância, conseguiu saltar uma cerca de arame e pular para o lado da Noruega. Depois de saltar, caminhou por mais algum tempo até avistar um povoado. Estava salvo.

O relato de Medvedev foi confirmado pelo grupo russo de defesa dos direitos humanos Gulagu.net. O nome desse grupo é uma referência ao Gulag, um acrônimo russo para o termo: “Administração Geral dos Campos de Trabalho Corretivo” (Glavnoye Upravleniye Ispravitelno-trudovykh Lagerey), designação burocrática para os campos de concentração espalhados por diversas ilhas do extremo norte da Rússia, para onde eram enviados os dissidentes do regime soviético. Milhares de pessoas morreram ou desapareceram nas ilhas cobertas pelo gelo da Sibéria. Esse período de terror da era soviética foi narrado pelo escritor Aleksandr Solzhenitsyn, no livro “Arquipélago Gulag”.

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