COMPORTAMENTO
Adolescentes abandonam smartphones e fogem das redes sociais

Grupo de jovens abandona o celular e foge das redes sociais

"Sem smartphone, comecei a usar o meu cérebro", afirma jovem que critica a dependência das redes

Da redação | 23 de janeiro de 2023 - 21:55
Adolescentes abandonam smartphones e fogem das redes sociais

The New York Times 

Por incrível que pareça, existem adolescentes que vivem fora do universo digital, que preferem ler livros físicos e buscam outras fontes de cultura e informação fora da bolha. São os adeptos do novo ludismo, movimento antitecnologia que se manifesta em centros urbanos como Nova Iorque.

Os adolescentes ‘luditas’ têm uma certeza. Melhor do que qualquer smartphone de última geração é não ter nenhum telefone. “Comecei a usar meu cérebro”, diz um membro do Luddite Club, que se reúne todos os domingos nos degraus da Biblioteca Central no Grand Army Plaza, no Brooklyn. Nesses encontros, eles trocam informações sobre livros e autores. Entre seus preferidos, destacam-se Dostoievsky , (“Crime e Castigo”); e Jack Kerouac (“On the Road”, ou “Pé na Estrada”, na tradução em Português).

Na reunião semanal eles promovem um estilo de vida de autolibertação das mídias sociais e da tecnologia. A regra número um é jogar o celular para escanteio. Ninguém usa telefone durante os encontros. Aliás, eles também não se falam por celular nem trocam mensagens durante a semana. “Estamos aqui todos os domingos, faça chuva ou faça sol ou até mesmo neve. Fora daqui, nós não mantemos contato um com o outro, então você tem que aparecer”, diz outro integrante.

Jovens néo luditas: gosto pela leitura e aversão às redes sociais. (Foto: Scott Rossi – The New York Times)

O que fazem os luditas

As atividades são livres. É possível ler, desenhar em cadernos de esboços, pintar telas de aquarela, fazer fotografias ou simplesmente contemplar a paisagem.  “Todos nós temos essa teoria de que não devemos ficar confinados apenas a prédios e trabalho”, destaca outro ludita. O movimento parte do princípio de que é preciso viver a vida real e, para eles, redes sociais e smartphones não são a vida real.

Criado no ano ano passado, esse grupo se inspira no movimento lançado por trabalhadores ingleses do setor de fiação e tecelagem, no início do século XIX, que se opunham ao uso de máquinas em substituição à mão-de-obra humana. O termo ludismo, ou luddismo, deriva de Ned Ludd, o personagem fictício, criado para difundir o movimento entre os operários.

Os néo-ludistas se opõem ao que consideram o uso exagerado das novas tecnologias. “Você publica algo nas redes sociais, não recebe curtidas suficientes e não se sente bem consigo mesmo. Isso não deveria acontecer com ninguém”, afirma um dos adeptos da nova tendência.

Impacto da pandemia

Alguns dos integrantes do novo Ned Ludd decidiram mudar de vida durante a pandemia de Covid-19, com as restrições de isolamento social impostas para evitar a disseminação do novo coronavirus. Nesse período o uso das mídias sociais aumentou muito e alguns adolescentes sentiram a necessidade de desligar. Cansados de selfies perfeitas e de uma vida até certo ponto artificial, muitos excluíram suas contas no Instagram e outras redes.

O grupo de Nova York tem poucos integrantes que admitem a dificuldade em arregimentar novos membros. Mas apesar de pequeno, o grupo é coeso nos propósitos de observar e viver o mundo sob uma perspectiva diferente, fora do lugar comum.

No encerramento de um encontro recente, os luditas decidiram sair para comemorar o aniversário de uma das adolescentes. O grupo deixou o Prospect Park, no Brooklyn, a pé e foi caminhando até um restaurante de comida tailandesa. E, enquanto marchavam pela escuridão, a única luz que brilhava em seus rostos era a luz da lua.

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