Comandante russo justificou decisão: “Não era mais possível abastecer a cidade”. Ucrânia encara vitória com cautela.
O general russo Sergei Surovikin anunciou em rede nacional a retirada de suas tropas da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia ocupada. “Eu entendo que esta é uma decisão muito desconfortável. Ao mesmo tempo, salvaremos a vida de nossos militares e a capacidade de combate de nossas tropas”, disse Surovikin.
Com a decisão, a Rússia perde o controle da margem ocidental do rio Dnipro e se posicionará numa linha defensiva do outo lado do rio, na margem esquerda.
Kherson é a única capital regional que as forças russas conseguiram capturar desde que iniciaram a guerra em 24 de fevereiro. A cidade é a capital de uma das quatro regiões ucranianas que o Kremlin afirma ter anexado, junto com Luhansk, Donetsk e Zaporizhzhia.
Kherson fica às margens do rio Dnipro, perto da costa do Mar Negro e perto da Crimeia, território da Ucrânia que a Rússia anexou em 2014. Por isso, a reconquista da cidade é vista como uma porta de entrada para uma sonhada reconquista do território da Crimeia.
O rio Dnipro atravessa o centro da Ucrânia e o controle da região tem importância estratégica para a manutenção da segurança do país.
Desde agosto, em sua contra-ofensiva militar, a Ucrânia direciona seu potencial bélico, com armas de longo alcance, para atingir pontes usadas pela Rússia para fornecer suprimentos às tropas na área.
A estratégia deu resultados. A situação ficou insustentável e o general Sergei Surovikin, comandante das forças russas na Ucrânia, foi obrigado a recuar porque não era mais possível abastecer a cidade.
Em Kiev, o presidente Volodymyr Zelensky mantém a cautela. Para ele, as forças russas ainda permaneceram na cidade de Kherson e não estão claras quais são as reais intenções da Rússia.
“Há muita alegria no espaço da mídia hoje, e é claro o porquê. Mas nossas emoções devem ser contidas. O inimigo não nos traz presentes, não faz gestos de boa vontade”, disse Zelensky.
Uma estimativa feita pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos indica que pelo menos 200 mil soldados russos e ucranianos morreram ou ficaram feridos desde o início da guerra.
A informação foi divulgada pelo general Mark A. Milley, o principal oficial militar dos EUA. “Bem mais de 100 mil soldados russos foram mortos ou feridos na guerra, e a Ucrânia provavelmente sofreu um número semelhante de baixas”, disse Milley ao Clube Econômico de Nova York.
O número de 100 mil é maior do que as estimativas anteriores do Pentágono sobre as baixas russas na guerra, que variavam entre 60 e 70 mil em agosto.
Milley, comandante do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, disse que a retirada total das tropas russas da cidade ucraniana de Kherson pode levar semanas e que os meses de inverno podem trazer uma oportunidade de negociação entre Kiev e Moscou.
O presidente Biden disse que a retirada russa de Kherson permitirá que a Moscou e Kiev recalibrem suas posições durante o período de inverno e decidam se vão ou não se comprometer com um acordo de paz. Mas o presidente americano acrescentou que os Estados Unidos não forçarão a Ucrânia a negociar com a Rússia.
No alto comando militar americano há o consenso de que os dois países envolvidos na guerra devem reconhecer que uma vitória militar completa não é alcançável para nenhum dos lados.