SOCIEDADE
A solidão na velhice é uma das principais preocupações dos homossexuais (Foto: Pexels)

O difícil desafio da velhice para os gays

Pessoas LGBTQIA+ temem isolamento e falta de apoio na idade avançada

Da redação | 23 de outubro de 2022 - 17:25
A solidão na velhice é uma das principais preocupações dos homossexuais (Foto: Pexels)
Steven Petrow,
The Washington Post

Quem te traria uma canja de galinha se você estivesse idoso e doente? Para a maioria das pessoas de uma certa idade, a resposta é mais ou menos fácil — um cônjuge ou um filho adulto resolveria o problema. Para as pessoas LGBTQIA+, no entanto, essa não é uma pergunta simples de responder.

“Os gays precisam refletir muito a respeito disso para se precaverem para a velhice”, diz Imani Woody, uma acadêmica e defensora da comunidade gay, que se aposentou para fundar uma organização que serve idosos LGBTQIA+. Ela acredita que, para a comunidade gay, falte fundamentalmente um sistema de apoio social para atender esse público num momento especialmente difícil para boa parte deles.

A possibilidade de ficar solteiro e não ter filhos é muito maior para os gays, o que pode levar à falta de amparo na velhice (Foto: Pexels)

“Alguns anos atrás, eu teria dito que meu então marido seria meu cuidador primário se eu ficasse doente ou inválido. Eu teria feito o mesmo por ele. Agora tenho 65 anos e me divorciei. E essa tornou-se uma de minhas principais preocupações”, conta ela.

Trata-se de preocupação igualmente séria para muitas pessoas LGBTQ com as quais Imani atende, sejam solteiras ou tenham parceiros. “Veja o caso de um amigo meu, que tem 60 anos e vive sozinho. Ele cuidou de seu pai moribundo no ano passado (como eu tinha feito quatro anos antes com o meu pais). Durante a longa doença de seu pai, tratamos de duas questões que nos aterrorizam (e eu não uso essa palavra de forma banal): “Quem vai cuidar de nós quando precisamos de ajuda?” “Para onde iremos quando não possamos mais cuidar de nós mesmos?”

Mais difícil para os homossexuais

Envelhecer é um desafio igualmente difícil para pessoas heterossexuais e gays. Mas, nos Estados Unidos, organizações de apoio ao público de idosos gays elencam características e dificuldades que o público LGBTQ enfrenta a mais do que os héteros nessa fase da vida:

1 – São duas vezes mais propensos que heterossexuais a ser solteiro e viver sozinho, o que significa mais propenso a ser isolado e solitário. 2-Têm quatro vezes menos chances de ter filhos. 3-Está mais propenso a enfrentar a pobreza,  ser sem-teto e ter má saúde física e mental.

“Muitos de nós postergam ou evitam cuidados médicos necessários porque enfrentamos discriminação ou maus tratos por parte dos prestadores de cuidados de saúde. Se você é gay e trans ou uma pessoa negra, essas disparidades são muito claras e os relatos são inúmeros”, diz Imani Wood.

Há cerca de 3 milhões de pessoas LGBTQ com 50 anos ou mais nos Estados Unidos.

“O desafio de envelhecer é especialmente cruel para boa parte das pessoas gays”, avalia Michael Adams, executivo-chefe da SAGE, associação de atenção a idosos gays nos Estados Unidos. “A dura realidade é que as pessoas LGBTQ mais velhas sofrem por viver normalmente de forma mais isolada e ter menos conexões sociais do que os héteros. E faltam as conexões pessoais que muitas vezes vêm com estruturas familiares tradicionais”, explica Adams.

Rejeição pela família

Isso decorre do fato de os gays muitas vezes serem rejeitados pela família, amigos e comunidade em seus anos mais jovens por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. “Para começar, não podíamos casar legalmente até 2015, quando a Suprema Corte decidiu em favor da igualdade matrimonial.

Mas mesmo pessoas gays casadas podem acabar sozinhas depois de um divórcio ou morte, o que muitas vezes traz desafios diferentes daqueles enfrentados por pessoas heterossexuais que enfrentam os mesmos eventos que mudam a vida”, explicou Michael Adams.

Diante da ausência de políticas voltadas para o problema e da falta de perspectivas de que elas sejam adotadas no futuro, Adams faz recomendações para que as pessoas LGBTQ ampliem suas conexões sociais e acabem sendo parte de uma “tribo”, que amplie a proteção entre seus membros.

Relações pessoais, fundamental

“É importante desenvolver relações de amizade intergeracionais, mesmo se você tiver de 30 a 40 anos. Anciãos podem transmitir sabedoria e experiência para jovens LGBTQ e esses podem oferecer ajuda em troca”, conclui.

E essa não é uma receita apenas para o público homossexual. Um estudo da Universidade de Harvard sobre  Desenvolvimento Adulto, que acompanha homens e mulheres independentemente de sua orientação sexual definiu que as relações pessoais são o ingrediente crítico no bem-estar, particularmente à medida que as pessoas envelhecem.

Simplificando, mais quanto mais conectados estamos, mais provável é que consigamos ser saudáveis e felizes. Parafraseando Imani Woody: comece a construir já essas pontes.

A solidão na velhice é uma das principais preocupações dos homossexuais (Foto: Pexels)

+ DESTAQUES