Um terço de tudo que é produzido a cada ano, no setor agrícola, não é aproveitado
Um terço dos alimentos produzidos no mundo são perdidos ou desperdiçados a cada ano? Ao mesmo tempo, com o aumento da população do planeta, mais pessoas entram em situação de insegurança alimentar? Um tema complexo, a perda de alimentos faz parte dos desafios globais da Organização das Nações Unidas e integra a lista dos ODS, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
A perda e o desperdício começam no campo com grãos, frutas, vegetais e outros alimentos que foram deteriorados pelo ataque de pragas, mudanças de temperatura ou doenças, por colheitas malsucedidas, falta de refrigeração (no armazenamento, transporte e distribuição) e por não apresentarem um padrão visual para o varejo, a industrialização ou o consumo, isto é, são considerados os “alimentos feios visualmente”.
Outro fator que influi nesta questão é que a disponibilidade de tecnologias para proteção de plantas, colheita, conservação e transporte dos alimentos é maior em países ricos, reduzindo as perdas. No entanto, nesses países a população também possui maior poder aquisitivo e muitas vezes compra mais do que consome e assim desperdiça mais. A maior porcentagem de perda e desperdício está concentrada em países ricos, como Estados Unidos, Inglaterra entre outros da Europa Ocidental.
Países em desenvolvimento – com menor acesso a tecnologias e alimentos – têm a PDA (perdas e desperdício) concentrada nos estágios iniciais da produção de alimentos. Por incrível que pareça, esses países ainda apresentam um desperdício menor do que o visto nos países ricos.
Para que os objetivos do desenvolvimento sustentável sejam alcançados é preciso uma transformação do sistema alimentar. Mais agricultores precisam ter acesso a tecnologias para monitoramento da lavoura, colheita, armazenamento e transporte dos alimentos. A agricultura digital e a incorporação da internet das coisas tem um peso importante aqui.
Nesse sentido, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para monitorar a deterioração dos alimentos, bem como avaliar a maturação das frutas para que o momento de sua venda possa ser avaliado com maior precisão.
Sensores eletrônicos ultrassensíveis estão se mostrando eficientes no monitoramento dos alimentos durante o transporte e armazenamento – são utilizados para coletar informações sobre o frescor dos alimentos e o crescimento de microrganismos.
Tecnologias para monitoramento da qualidade dos alimentos são importantes em todas as etapas do sistema alimentar. Com a função de emitir alerta quando o nível de contaminação química ou biológica ultrapassa o permitido, evitam que alimentos seguros sejam perdidos ou desperdiçados.
Esse tipo de tecnologia também está sendo utilizado para criar rótulos e embalagens de alimentos que mudam de cor, revelando informações sobre o alimento. Na prática, estes sensores permitem que agricultores, comerciantes e consumidores possam verificar a presença de contaminantes químicos e biológicos antes de colocaram os produtos à venda ou na mesa.
Também estão sendo desenvolvidos aditivos e conservantes biológicos que prolongam a vida útil de muitos alimentos básicos e permitem que os fabricantes de alimentos aumentem os volumes de produção e reduzam o desperdício sem comprometer a qualidade de seus produtos.
Outra tendência na proteção dos alimentos são as novas embalagens contendo atmosfera modificada onde especialmente o CO2 é usado como agente antimicrobiano e o N2 como antioxidante.
O problema de perda e desperdício é bastante complexo. Para que a redução aconteça de forma efetiva é necessário planejamento e coordenação cuidadosos entre governos, produtores de alimentos, vendedores e consumidores. Em países que estão em desenvolvimento é preciso investir mais em infraestrutura e transporte, inclusive em tecnologias de armazenamento e refrigeração.
Nos países desenvolvidos, a educação dos consumidores direcionada à mudança de comportamento na compra e descarte de alimentos, é essencial.