Em muitos países, incluindo o Brasil, a vacinação de crianças contra a doença caiu fortemente durante a pandemia de Covid
O sarampo, doença que se pode evitar facilmente com vacina, mas altamente infecciosa, pode estar prestes a voltar após desprezo na vacinação durante a pandemia de coronavírus, segundo previsão da Organização Mundial da Saúde e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
Segundo cálculos dos dois órgãos, quase 40 milhões de crianças deixaram de tomar suas doses de vacina no ano passado. Além disso, 25 milhões de crianças não receberam a primeira dose, enquanto outros 14,7 milhões de crianças perderam a segunda dose, o que significa um recorde de vacinação perdida.
O número de infecções por sarampo diminuiu em todo o mundo nas últimas duas décadas, embora continue sendo uma ameaça fatal, principalmente para crianças pequenas não vacinadas no mundo em desenvolvimento.
No ano passado, no entanto, houve cerca de 9 milhões de casos e 128.000 mortes globalmente. O número de ocorrências ficou 25% acima dos 7,5 milhões de casos do ano anterior e as mortes mais do que dobraram em relação às 60.700 de 2020.
Esse aumento internacional ocorreu devido a uma vigilância sanitária enfraquecida e campanhas de vacinação desprezadas ou adiadas pela pandemia, disseram a OMS e o CDC.
Cerca de 95% da população precisa ser vacinada com duas doses para que ocorra a imunidade coletiva, mas apenas cerca de 81% das crianças em todo o mundo receberam a primeira dose e 71% a segunda, disseram os dois órgãos.
“A imunização de rotina deve ser preservada e fortalecida” apesar do coronavírus, disse Kate O’Brien, diretora de imunização, vacinas e produtos biológicos da OMS, no ano passado. Caso contrário, “corremos o risco de trocar uma doença mortal por outra”.
A baixa cobertura vacinal no país deixa a população infantil exposta a doenças que antes não eram mais uma preocupação. Além do sarampo, outras doenças que correm o risco de voltar a acometer as crianças são a poliomielite, meningite, rubéola e a difteria.
Apesar da queda na proteção vacinal, não há por enquanto sinal de aumento dos casos de sarampo. Também segundo a Fiocruz, o Brasil recebeu em 2016 a certificação da OMS da eliminação do vírus. Nos anos de 2016 e 2017, não foram confirmados casos de sarampo no país. Mas em 2018 houve novo surto e foram confirmados 9.325 casos da doença.
No ano de 2019, após um ano da volta do vírus, o Brasil perdeu a certificação de ‘País livre do vírus do sarampo’, dando início a novos surtos, com a confirmação de 20.901 casos da doença. Em 2020 foram confirmados 8.448 casos e, em 2021, 676 casos de sarampo foram confirmados.
Mesmo sem ter os números fechados para 2022, os casos confirmados até agosto eram 44, o que mostra um recuo na incidência, apesar da queda na vacinação para todas as doenças infantis no país no último ano.