TECNOLOGIA

Portugal pode ter a chave para a energia alternativa

Novo sistema de barragem gera eletricidade suficiente para rivalizar com um reator nuclear

Da redação | 24 de janeiro de 2023 - 21:55

The New York Times 

Ribeira de Pena, Portugal – Quando o sistema elétrico de Portugal precisa de um reforço, um sinal disparado de Madri, na Espanha, ativa uma usina encravada no fundo de uma encosta coberta de pinheiros no norte do país. Dentro da caverna, válvulas de 2,7 metros de diâmetro subitamente se abrem, permitindo que a água vinda de um reservatório a seis quilômetros de distância comece a fluir através de quatro turbinas imensas. De perto, elas fazem um barulho ensurdecedor. Em plena potência, geram eletricidade suficiente para rivalizar com um reator nuclear.

Esse é o coração de um vasto projeto hidrelétrico que está remodelando um vale fluvial acidentado, a cerca de cem quilômetros a leste do Porto, a segunda maior cidade de Portugal. Além da usina subterrânea, a Iberdrola, gigante espanhola de energia, construiu três barragens na área – duas no Rio Tâmega e uma em um afluente que o alimenta – e os três reservatórios resultantes se espalham por quase dez quilômetros quadrados. “São minhas pirâmides”, disse David Rivera Pantoja, gerente de projeto, que trabalha nele há quase 15 anos.

Mas o complexo de um bilhão e meio de euros (US$ 1,6 bilhão) de concreto, túneis e água não é apenas enorme. Pode também ser uma resposta a uma das questões mais incômodas que a energia renovável enfrenta.

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Centenas de bilhões de dólares estão sendo gastos no mundo inteiro em energia solar e eólica. Quando, porém, não há sol ou o vento não sopra, de onde virá a eletricidade? O gigantesco projeto da Iberdrola – que usa água e gravidade para gerar energia sob demanda e depois bombeia a água de volta para o reservatório superior – é parte da solução.

O conceito de armazenar energia na forma de água no topo de uma montanha existe há mais de um século. Mas, agora, uma espécie de renascimento global da tecnologia, conhecida como armazenamento bombeado, está em andamento. A ideia central é gerar energia renovável sob demanda.

A mudança em curso para fontes de energia renováveis está criando uma necessidade de outras fontes de eletricidade que possam ajudar a preencher as lacunas. “Você não pode ter só energia solar e eólica. Alguma coisa é necessária para equilibrar”, afirmou Fabian Ronningen, analista da Rystad Energy, empresa de consultoria.

Barragem da Iberdola em Portugal: sistema é acionado remotamente, de Madri. (Fotos: The New York Times)

Uma instalação como a do Rio Tâmega armazena energia sob a forma de água quando o vento sopra forte ou em dias de sol, e então a usa, gerando eletricidade e provocando a queda do nível da água no reservatório superior, quando a energia é menos abundante e mais cara. E inverter o fluxo das turbinas para bombear a água de volta ao túnel permite que ela seja recarregada indefinidamente.

Segundo os executivos da Iberdrola, os planos dos governos da Europa e de outros lugares para aumentar a energia eólica e a solar significam mais demanda por instalações como a do Tâmega.

Interesse em vários países

Como as usinas de armazenamento bombeado são úteis para manter uma rede elétrica em operação, estão sendo bem vistas em muitos países, incluindo a China, a Índia e a Austrália.

A fim de garantir água suficiente para a central, mesmo durante as secas, a Iberdrola construiu duas barragens no Tâmega, distantes cerca de dez quilômetros uma da outra. Cada uma dessas barreiras terá turbinas para que também possam produzir eletricidade e receita quando a água for liberada.

A empresa também represou um pequeno rio que corre para o maior, criando um terceiro reservatório no alto de um planalto cerca de 600 metros acima do vale. Um túnel de água de seis quilômetros e 7,3 metros de largura conecta esse lago artificial às cavernas no subsolo, onde turbinas e outros equipamentos estão instalados.

Na maior parte de sua extensão, o túnel é nivelado, mas, à medida que se aproxima da usina, começa um declive e ele enfim mergulha verticalmente, criando uma tremenda pressão da água. Se todas as quatro turbinas estiverem funcionando, a água vem a 160 mil litros por segundo.

Uma das barragens, a do Alto Tâmega, só estará concluída em 2024. A usina subterrânea, porém, já está operando. Lá, uma equipe de técnicos trabalha sob a terra. A instalação já começou a produzir eletricidade enquanto ainda passava por ajustes finais.

A Iberdrola diz que a seca severa do verão passado e os baixos níveis de água nas barragens tradicionais aumentaram o uso do sistema de armazenamento. A empresa também acredita que períodos de alta e baixa geração elétrica a partir de energia eólica e solar devem aumentar a demanda pelo reservatório. De acordo com os executivos, quanto mais frequentemente as turbinas forem usadas, mais receita produzirão para a Iberdrola.

 

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