Em estudo recém-publicado, o Lecanemab conteve avanço da doença, mas tem vários efeitos colaterais
Um medicamento experimental para Alzheimer, o Lecanemab, mostrou-se eficaz para retardar de maneira inédita os efeitos da doença. Mas o estudo sobre a substância publicado na terça-feira (29/11) indicou também possibilidade de riscos à segurança dos pacientes testados, o que justificará ensaios clínicos mais longos.
A pesquisa, divulgada no New England Journal of Medicine, descobriu que um medicamento desenvolvido pela Eisai, com sede em Tóquio, e pela Biogen, com sede em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos, reduziu avanço da doença de Alzheimer, ao atacar a proteína beta amilóide.
Os resultados detalhados do estudo também concluíram que a droga estava associada a “eventos adversos” de algumas pessoas testadas e, por isso, há necessidade de maior tempo e aprofundamento das pesquisas.
Marwan Sabbagh, neurologista do Barrow Neurological Institute e co-autor do estudo, descreveu duas mortes de pacientes que levantaram preocupações sobre a segurança do medicamento antes da apresentação de terça-feira.
“A associação das mortes com o Lecanemab ainda não é conclusiva”, disse ele, observando que ambos os pacientes — uma mulher de 65 anos e um homem de 87 anos — tinham problemas de saúde subjacentes. Ambos morreram por sangramento cerebral.
“Isso pode ser um risco relativo que precisa ser bem dimensionado”, disse ele na conferência Clinical Trials in Alzheimer’s Disease, na terça-feira.
A empresa Eisai confirmou as duas mortes na noite de terça-feira, mas negou que elas estivessem relacionadas à droga.
A apresentação dos novos detalhes sobre a droga foram objeto de intensa expectativa por médicos e pelo mercado financeiro americano, em Wall Street, já que a Eisai e a Biogen anunciaram em setembro que o Lecanemab havia retardado o declínio cognitivo de pacientes com Alzheimer em 27%, em comparação com um placebo.
O Lecanemab emergiu como o principal entre uma classe de medicamentos em pesquisa que visa remover aglomerados da proteína no cérebro chamada beta-amilóide. Os pesquisadores há muito acreditam que ela desempenha um papel decisivo na doença de Alzheimer.
A Food and Drug Administration pode aprovar o uso da droga já em janeiro. Isso pode significar um prêmio multibilionário para as empresas farmacêuticas envolvidas, na medida em que a doença debilitante afeta 6 milhões de pessoas só nos Estados Unidos e tem poucas terapias aprovadas e eficazes.
“São os melhores resultados que vimos até agora de um medicamento contra Alzheimer”, disse Myles Minter, analista de biotecnologia da William Blair.
Os resultados positivos do Lecanemab seguiram-se a uma controvérsia a respeito de outro medicamento em análise, desenvolvido igualmente pela Eisai e pela Biogen, o Aducanumab.
Essa droga, conhecida pela marca Aduhelm, foi aprovada pela FDA no ano passado, apesar dos dados conflitantes sobre sua eficácia. Aduhelm fracassou comercialmente depois que o plano de saúde público americano, o Medicare, se recusou formalmente a reembolsar tratamentos feitos com a fórmula.
“O Lecanemab é um ensaio clínico claramente positivo”, disse Gil Rabinovici, neurologista da Universidade da Califórnia em San Francisco, reconhecendo que existe uma “preocupação de segurança potencialmente séria que exigirá uma discussão com os pacientes”.
Ainda assim, acrescentou, “pela primeira vez em mais de um século conseguimos alterar o curso do desenvolvimento do Alzheimer, e isso é uma ótima notícia para a área e, mais importante, para os pacientes”, concluiu.