Encontrar mais tempo para não fazer nada é o sonho de muita gente e, se todos que buscam essa meta conseguissem, o mundo poderia passar por uma explosão de criatividade. O problema, nos tempos atuais, é que milhões de pessoas acabam usando o tempo livre para navegar nas redes sociais e aplicativos e isto, segundo estudo recente, é uma barreira para a criatividade. O ócio não é uma coisa ruim, dizem os pesquisadores, que alertam para o risco de permanecer longas horas no Instagram, TikTok, WhatsApp e outros.

Cientistas acreditam que os internautas que habitualmente usam as mídias sociais para escapar do tédio superficial estão, sem saber, impedindo de avançar para o estado saudável de “tédio profundo”. Quando temos um tempo vago, isso geralmente leva a uma atividade mais criativa e significativa, de acordo com trabalho publicado pelo Marketing Theory, realizado pela Escola de Administração da Universidade de Bath, no Reino Unido, e do Trinity College, em Dublin, na Irlanda.

Os idealizadores do estudo disseram que a pandemia, as licenças médicas e a solidão forçada deram a muitas pessoas a rara chance de experimentar dois níveis de tédios, descobertos pelo filósofo alemão Martin Heidegger: superficial e profundo.

O tédio superficial pode ser considerado o estado de tédio mais comum e é definido como um sentimento de ansiedade. Por exemplo, ficar entediado em uma situação como esperar um avião, onde buscamos distrações temporárias da vida cotidiana – na maioria dos casos por meio de mídias sociais e dispositivos móveis.

O tédio profundo, por outro lado, decorre de uma abundância de tempo ininterrupto passado em relativa solidão. Essa variedade de tédio pode promover indiferença, apatia e até levar as pessoas a questionar seu senso de identidade e sua existência. Embora nem tudo isso soe muito agradável, Heidegger ensinou que também pode abrir caminho para um pensamento e atividade mais criativos.

“O problema que observamos foi que a mídia social pode aliviar o tédio superficial, mas a distração consome tempo, energia e pode impedir que as pessoas progridam para um estado de tédio profundo, onde podem descobrir novas paixões”, diz o Dr. Timothy Hill, um dos responsáveis pelo estudo. “Esta pesquisa nos deu um caminho para entender como a cultura e os dispositivos ‘sempre ligados’, 24 horas por dia, 7 dias por semana, que prometem uma abundância de informações e entretenimento, podem estar consertando nosso tédio superficial, mas na verdade estão nos impedindo de encontrar coisas mais significativas. Aqueles que se envolvem em ‘desintoxicações digitais’ podem estar no caminho certo.”

A foto desta reportagem é do Anton/Pexels