O dinheiro digital, que já rendeu fortunas a alguns, pode tornar-se tortura para o investidor comum. Mas será que ainda vale arriscar?
Se você já se sentiu um peixe fora da água nos últimos tempos, ao assistir a disparada no valor das criptomoedas e não usufruir disso, você não é diferente de quase todo mundo da classe média terrestre, que dispõe algum dinheiro para investir.
Quem não gostaria de pôr 1000 reais numa aplicação e doze meses depois ter 178 mil na conta?! Foi assim que sortudos enriqueceram ao investir na moeda digital Axie Infinity (AXS) em 2021.
Mas não sofra à toa. Prever que determinada criptomoeda chegaria a valorização estratosférica no período de apenas uma volta da terra em torno do sol pode ser tão raro quanto acertar na Mega Sena sozinho com uma aposta simples.
Além do mais, quem ganhou tanto e tão fácil pode ter perdido este ano quase tudo ou até mais do que amealhou em 2021, depois que as criptos despencaram em conjunto em junho, sabe-se lá por quê, e agora no final do ano, pela quebra da segunda maior corretora de criptos, a FTX.
Essas altas e baixas sem muita explicação são inerentes a esse tipo de dinheiro. Sim, porque as criptomoedas são dinheiro, como são as moedas todas, ou o ouro. Só que não tem a chancela de nenhum organismo público ou governo. A garantia de que qualquer investimento possui algum valor se dá sempre pela possibilidade de você conseguir revender aquele ativo no futuro.
No caso das moedas digitais, essa confiança o comprador obtém com base na confiabilidade das corretoras que fazem a denominada “mineração”. Inclui-se nesse status também o histórico já de mais de década de algumas moedas digitais.
A chancela dessas “mineradoras”, que intermediam e conferem compras e vendas no segmento, equivale, por exemplo, ao carimbo do Banco Central de um país numa cédula ou no recibo de um banco, que atesta que você fez um depósito na instituição.
Mas a similaridade da moeda digital com o dinheiro convencional para por aí. Porque a flutuação das criptomoedas supera todas as oscilações que a humanidade assistiu na economia, mesmo em tempos de crise.
Em junho, por exemplo, o Bitcoin, que é a moeda digital mais popular desse mercado, desvalorizou-se quase 60%. Isso fez com que muita gente a vendesse com medo de que ela caísse mais. Em julho, porém, ela já recuperou ao redor de 20%. Mas em 2022, até agora, a perda acumulada foi de quase 70%, de US$ 53 mil para US$ 16.900.
Esse sobe e desce alucinante torna-se uma montanha russa para aquele investidor comum que aventura-se nesse tornado financeiro. Compare com a Selic (taxa baixa de juros) de 13% a 14%, que influencia aplicações de renda fixa e CDBs. Ela vai propiciar ao investidor de baixo risco manter o valor de suas reservas com alguma vantagem sobre a inflação. Mas quem “joga” em criptomoedas, essa variação de 10% a 20% pode ser alcançada em uma semana ou até em um dia. Por isso as criptos botam pulga atrás de nossas orelhas.
Mas elas não são, definitivamente, um mercado para fracos (de saúde ou de bolso). Ou, pelo menos, não para aquela classe média típica dispor de mais do que 5% ou 10% de seus recursos disponíveis. Para quem quer se arriscar, vale a máxima de que “se perder o que aplicou não vai fazer diferença”.
Veja só dois episódios neste ano: em meados do ano, em meio à recuperação das cotações da Bitcoin, Elon Musk, o tresloucado dono da Tesla, da Space X e agora do Twitter, decidiu vender 75% de tudo o que possuía da moeda digital. Imediatamente a cotação despencou, antes de estabilizar-se e ensaiar recuperação. Agora, em outubro e novembro, a mesma Bitcoin foi novamente ladeira abaixo quando a FTX quebrou, sob suspeita de negócios irregulares com dinheiro de investidores.
Também a Ethereum, outra criptomoeda muito comercializada, sofreu este ano, caindo igualmente quase 70%, de US$ 4.120 para US$ 1.270.
Portanto, nesse segmento financeiro, é preciso ser cuidadoso. Há quem ganhe, mas muitos perdem. Se der muita vontade, aprecie. Mas com moderação.