País aposta na transição para a energia verde, sem energia nuclear. A meta é instalar cinco usinas eólicas por dia pelos próximos anos
A Alemanha, a maior economia da Europa, anunciou o fechamento das suas últimas usinas nucleares ainda em funcionamento. A partir do próximo sábado, dia 15, a fumaça branca que sai da usina de Baden-Württemberg, às margens do rio Neckar, perto de Sttuggart, no Sul do País, vai se tornar apenas uma lembrança. O mesmo vai acontecer com outras duas usinas a de Bavarian Isar e Emsland, na fronteira com a Holanda que, já estavam temporariamente desativadas e, agora, serão fechadas.
O governo alemão decidiu alterar sua matriz energética, mesmo diante da crise sem precedentes criada pela guerra na Ucrânia. A Rússia suspendeu o fornecimento de gás e petróleo para os países ocidentais, como represália às sanções impostas ao país por conta da invasão da Ucrânia.
A Alemanha foi o país mais afetado pelo corte no fornecimento decidido pela Rússia. Mas o governo alemão reagiu rapidamente e conseguiu fechar acordos de importação de gás e petróleo com países do Oriente Médio, além de receber repasses de seus vizinhos na Europa.
A decisão de eliminar gradualmente a energia nuclear foi tomada, em 2002, e acelerada por Angela Merkel, em 2011, após o desastre de Fukushima, no Japão, que expôs os riscos associados à energia nuclear que não podem ser controlados totalmente.
Energia limpa
A Alemanha tem pressa para avançar em direção a uma economia de baixa emissão de poluentes e estabeleceu metas climáticas audaciosas. Para atender as suas necessidades energéticas, o país precisa instalar cinco turbinas eólicas por dia pelos próximos anos, o equivalente a 1.825 a cada ano. Para se ter uma ideia do tamanho do desafio, em 2022, foram instaladas 551 unidades, três vezes menos do que a meta estipulada para os próximos anos.
Nesse planejamento, até 2038, o país pretende fechar todas as usinas movidas a carvão. Esta é uma meta ainda mais difícil de ser alcançada porque o carvão ainda responde por um terço da produção de eletricidade da Alemanha, com um aumento de 8% no ano passado para fazer frente à crise energética causada pelo corte no fornecimento do gás russo.
Para implementar a política de transição energética, a Alemanha contou com o apoio da opinião pública em um país onde o poderoso movimento antinuclear foi inicialmente alimentado por temores de um conflito da Guerra Fria e depois por acidentes como o de Chernobyl, no norte da Ucrânia.
O impacto da guerra
O início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, adiou a transição verde alemã. Sem o fornecimento do gás russo, cujo escoamento foi interrompido por Moscou, a Alemanha foi fortemente impactada pela crise energética, com o risco de fechamento de fábricas e a possibilidade de deixar a população sem aquecimento em pleno inverno, o que acabou não acontecendo graças à ajuda dos países vizinhos.
O resultado foi uma alta descontrolada nos preços da energia e, por um momento, a mesma opinião pública que apoiou a transição verde no início dos anos 2000, passou a considerar a possibilidade de ampliação do uso das usinas nucleares e o chanceler Olaf Scholz estendeu a operação dos reatores para garantir o abastecimento até 15 de abril.
Com a explosão da guerra, o Catar tornou-se o principal fornecedor de gás natural liquefeito (GNL) à Alemanha em um acordo de longo prazo que permitiu a superação da dependência em relação ao gás russo. Até 2022, a participação de fontes renováveis no mix de geração da Alemanha aumentou para 46%, contra menos de 25% uma década antes.