Jovens têm preferido evitar bebidas alcoólicas durante encontros amorosos
Existe sempre um item em comum em quase todos os encontros de filmes de comédia romântica. Pode ser na casa do personagem principal, num restaurante ou numa festa, a bebida alcoólica estará lá marcando presença na mão do protagonista ou de seu par romântico. Sejam eles, margaritas, martínis, vinhos ou espumantes, o imaginário de beber um bom drink no primeiro encontro, ou em quase todo encontro, envolve a maioria dos casais.
Para a psiquiatra e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Carmita Abdo, o objetivo das pessoas ao consumir a bebida alcoólica é de ter bom desempenho durante o encontro: “De fato, o álcool relaxa e a intenção é passar a melhor das impressões, ainda mais em um primeiro encontro, de uma pessoa interessante, não reservada ou até para criar coragem. O álcool pode tornar uma pessoa insegura mais corajosa”.
Apesar do uso da bebida ser considerada uma técnica infalível, na conquista ou no relaxamento, levantamentos mais recentes têm mostrado uma mudança na atual relação das pessoas com as bebidas alcoólicas em seus relacionamentos íntimos.
Pesquisa do aplicativo de namoro Hinge, mostrou que mais de um terço dos usuários dizem que estão mais abertos a um encontro sóbrio agora do que em outros tempos. A preferência é ainda maior entre os mais jovens, 31% dos usuários entre 18 e 24 anos dizem que não consomem bebidas em um encontro normal.
Carmita Abdo explica que existem dois motivos principais para esta mudança. O primeiro deles é que o álcool, consumido em grande quantidade, provoca dificuldades na ereção e no desempenho sexual. Diferente de outras gerações, muitos jovens avançam para a relação sexual no primeiro encontro. O que antes era uma ajuda para se abrir, conversar, se conhecer, hoje pode ser visto como um obstáculo. O segundo ponto é a questão da segurança. Principalmente em situações em que se conhece a pessoa por aplicativo ou internet é normal maneirar na dose para estar lúcido quando o clima esquentar. Além disso, a ausência do álcool faz com que homens e mulheres usem de forma mais consciente os preservativos, o que reduz os casos de gravidez indesejada, além da contaminação e propagação de doenças sexualmente transmissíveis.
O Tinder, outro aplicativo de relacionamento, mostrou que as menções a “sóbrio” aumentaram 26% de 2020 a 2021 nos perfis dos inscritos, subindo mais de 22% só no primeiro semestre deste ano. Segundo apurou o portal do Wall Street Journal, as menções às palavras “praia” e “piquenique” também aumentaram, sugerindo que as pessoas estão se encontrando para mais do que apenas para beber.
A boa notícia é que a diminuição do consumo de álcool não está só atrelada aos relacionamentos, mas como uma mudança de hábito das pessoas, inclusive dos brasileiros. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a frequência do consumo abusivo de bebidas alcoólicas diminuiu 2,6 % em 2021 se comparado a 2020.
O neurologista e representante da América do Sul do Subcomitê Internacional da Academia Americana de Neurologia, Fabricio Ferreira de Oliveira, garante que a diminuição do consumo de álcool traz benefícios não apenas para os relacionamentos, como para o organismo: “Não consumir bebida alcoólica traz maior sensação de bem-estar, maior disposição para atividades físicas e intelectuais, melhor digestão dos alimentos, além da melhora do humor, do desempenho cardíaco e redução do risco de câncer”.