O motivo dos ataques ainda é um mistério, mas especialistas acreditam em vingança
Autoridades portuárias da Espanha relataram um aumento no número de ataques de orcas contra barcos de pesca. Os incidentes se tornaram frequentes na costa espanhola. Somente este mês já foram registrados pelo menos 20 ocorrências do tipo no Estreito de Gibraltar. No mais recente, na última quinta-feira, um grupo de orcas colidiu com um veleiro, perfurando o casco e quebrando o leme da embarcação.
O grupo de pesquisa GTOA, que rastreia populações da subespécie de orca ibérica, informou que em 2022 foram registrados 207 incidentes envolvendo as orcas , conhecidas como baleias assassinas. Em 2020 e 2021 foram 249 ataques a embarcações.
Os motivos dos ataques ainda são um mistério, mas existem algumas suspeitas. Especialistas acreditam que uma vingança poderia estar por trás do comportamento violento dos cetáceos, baseado na experiência traumática de uma outra orca chamada White Gladis. Segundo essa teoria, a orca sofreu momentos críticos de agonia após ser atingida por um barco pesqueiro ou ter ficado presa nas redes dos pescadores durante uma pesca ilegal. Essa situação teria acionado um interruptor comportamental em Gladis, que começou a exibir comportamento defensivo contra embarcações e outras orcas passaram a imitá-la.
Vingança ou pura brincadeira?
As orcas, que têm fama de serem ferozes e muito inteligentes, danificam os lemes para deixar as embarcações sem controle. Mas por que elas fazem isso?
“Não sabemos a origem nem a motivação, mas o comportamento defensivo baseado no trauma, como origem de tudo isso, ganha mais força para nós a cada dia”, admite Alfredo López Fernandez, biólogo da Universidade de Aveiro em Portugal e integrante do GTOA. “Essa orca traumatizada foi quem iniciou esse comportamento de contato físico com os barcos e isso está simplesmente se espalhando por imitação entre os animais”, afirma o pesquisador.
Andrew W. Trites, diretor do programa de pesquisa de mamíferos marinhos da Universidade de British Columbia não acredita que sejam ataques. Para o professor seria “apenas um comportamento lúdico que está fora de controle”.
Trites lembra o caso de uma baleia chamada Luca, na costa de Vancouver, no Canadá, que nadou para longe de seu grupo e começou a seguir os barcos. “Mais tarde, ela aprendeu a agarrar os lemes para quebrá-los e desabilitar os barcos, para empurrá-los”, lembrou o especialista. “Neste caso, o animal estava buscando interações sociais e aprendeu que poderia prolongar as interações desativando os barcos. E então eles teriam que ficar com ele”, conjectura.
Independentemente de qual seja a explicação para esses incidentes, os ambientalistas estão preocupados. Eles alertam para a morte suspeita de quatro orcas pertencentes à subpopulação ibérica desde que o comportamento começou em 2020, e que pode ter relação com os ataques.
“Se esta situação continuar ou se intensificar, pode se tornar uma preocupação real para a segurança dos marinheiros e uma questão de conservação para esta subpopulação ameaçada de baleias assassinas”, alerta López Fernandez.
O último censo realizado em 2011 mostrou que havia apenas 39 orcas ibéricas na costa espanhola e este grupo está listado como criticamente ameaçado de extinção pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais).
As autoridades espanholas está alertando os velejadores a deixarem a área caso observem uma mudança na direção ou na velocidade de uma orca tentando estabelecer qualquer tipo de interação social.
As orcas não são baleias. Elas fazem parte da família dos golfinhos de maior porte e são superpredadores versáteis, que se alimentam de peixes, moluscos, aves, tartarugas, focas, tubarões e até de animais bem maiores, quando caçam em grupo, como, por exemplo, as baleias.