Além das dificuldades com pacientes, psicólogos não são ilesos aos transtornos
“Ele teve um ataque de pânico dentro do consultório, o que eu particularmente nunca havia presenciado. Começou com tremores leves nas mãos e nas pernas, mas logo avançou para movimentos mais bruscos, como se estivesse convulsionando. Já havia estudado sobre ataques de pânico e ouvido relatos, mas acontecer na minha frente era uma outra experiência. Como havia encontrado com ele em apenas duas sessões, ainda não compreendia o cenário completo, seus gatilhos, seus pensamentos, mas precisava ajudá-lo. Até aquele momento, havia ensinado algumas técnicas de respiração e relaxamento a ele. E me mantive calma para o auxiliar até a crise passar, o que durou cerca de uma hora. Fiquei desesperada, transpirando demasiadamente, por estar demorando tanto e achando que não estava ajudando em nada. Mas, no dia seguinte, o paciente entrou em contato comigo me agradecendo por ter ajudado de uma forma tão tranquila, que aquele dia o fiz perceber a necessidade e a importância da respiração. E que nunca ninguém havia o tratado ele daquela forma”. Esse é um relato da psicóloga Juliana Belomo, de 25 anos, de um atendimento realizado durante os primeiros meses de trabalho como psicóloga clínica.
O caso de Juliana pode ser mais comum do que parece. Assim como discutir sobre saúde mental nos dias atuais continua sendo um tabu, os desafios que os psicólogos enfrentam no dia a dia de trabalho também é. A jovem afirma que cada paciente a oferece um crescimento profissional. “Cada paciente é único, com uma história singular, e que terei uma forma de lidar diferente”, diz ela.
O fato é, lidar com pessoas pode ser difícil. Juliana explica que existem diversos pontos que influenciam no sucesso do atendimento, como a motivação do paciente, a rede de apoio que ele tem fora do consultório, o ambiente em que ele vive, entre outros. É o que também afirma o psicólogo Diego Falco, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Co-Fundador da Falco & Ricci Qualidade de vida. Para ele, sempre vão existir casos mais complicados. “Normalmente, tendem a ser com pacientes com transtorno de personalidade, mas não pelo caso em si. É mais pela questão da relação terapêutica, que fica mais difícil de construir uma relação sólida, que vai ajudar o paciente a melhorar”, explica Diego.
Em situações de “emergência”, quando existe uma dificuldade para chegar na solução para o problema do paciente, ambos profissionais dizem recorrer aos artigos científicos. Já que, às vezes, aquele caso já pode ter sido estudado e solucionado para alguém. E pode ser usado como um “norte” para eles.
Para Diego, o que mais afeta o profissional iniciante é a insegurança, medo de não ter aprendido o suficiente na faculdade. Além das dúvidas a respeito de como iniciar o atendimento; a melhor forma de realizar o trabalho, por vídeo-chamada ou presencial; e como divulgar o próprio trabalho.
E não pode esquecer que esses profissionais não são ilesos aos transtornos. Uma pesquisa realizada pela Universidade do Sul da Flórida, nos Estados Unidos, com mais de 1,7 mil psicólogos mostrou que 80% já afirmaram ter enfrentado uma dificuldade de saúde mental. E 48% já chegaram a ser diagnosticados com alguma doença. Ou seja, psicólogos também enfrentam grandes desafios pessoais no dia a dia. Entretanto, eles precisam superar, rapidamente, para poder ajudar os pacientes.